terça-feira, 8 de setembro de 2015

9:08 AM


  Seus gritos eram sucumbidos pelo diabo que a açoitava.
  Sua pele rasgava-se por dentro e por fora, e mesmo não estando completamente nua, era assim que se sentia. O cérebro pulsava na busca de uma fuga, mas tudo que seus olhos viam era o mundo coberto de sangue. Parte dela desejou que a morte fosse apenas um breu infinito, para que ela não tivesse que estar aqui agora. Cada parte de si queimava: seu rosto, suas pernas, até as pontinhas dos dedos. Cada célula berrava sem saber o que fazer. Sua identidade parecia estar escorrendo para fora e ela fazia questão de queimar cada canto exterior de si no processo.
  Até que sumiu.
  O diabo largou-a.
   Levantou, vestiu sua roupa íntima e abotoou a calça. Não disse nenhum adeus, mas também não havia dito nenhuma saudação, Só largou-a lá, sozinha num poço de desespero.
   Ela não sentiu nada, seu corpo inteiro desligou-se como se fosse reiniciar e algo havia dado errado. O mundo sangrento logo se desfez e em seu lugar ficou um céu negro sem estrelas. um mundo de ausência.
   E ficou. Até o orvalho molhar e limpar seu corpo. Até alguém passar e lhe dirigir a palavra. Até levantarem-na e a levarem dali. Até sentar numa cadeira fria e não responder nenhuma pergunta. Até abraçarem-na e fazerem promessas. Só ficou lá, esperando ser reiniciada. esperando que alguém notasse que ela não estava mais lá. Que ela havia deixado de existir. Que nela só havia ausência.