domingo, 13 de setembro de 2015

15:34 PM

Chovia de noite. Apenas uma pequena garoa, mas foi o suficiente para ela conseguir pegar ar novamente - toda àquela loucura não era para ela. Deitada num muro coberto de folhas, ela observava o céu escuro com manchas cinzas, que mais pareciam fumaças de charutos do que nuvens, e tudo aquilo era bom demais para ser verdade. Claro, o coração dela estava a mil em seu peito, mas sua mente parecia estar em outro lugar. Sentia-se conectada com as folhas em que encostava e a garoa limpava todas as suas preocupações.
Ela passou a mão pela blusa que não era sua, estava totalmente molhada, e a garota não podia dizer se era de suor ou chuva; e ela gostou disso. Ela gostou da sensação de estar perdida no mundo mas não em si, ela sabia o que fazia e porquê fazia. Sua mente percorreu milhares de devaneios até um gato passar por seu lado, era branco com tons de laranja, olhou-a de cabo a rabo e subiu em seu corpo, onde aninhou-se e deitou. Sentia-se em êxtase, mesmo não querendo se mover ou fugir dali. Acariciou o gato, que ronronou em retorno. E com os olhos quase cedendo à vida, ela virou para observar aquele menino que a levou para lá, que era a razão de tudo, provavelmente. Ele observava o céu também, mas não tranquilamente e sim com indignação. Ela só via o perfil dele, as sardas que cresciam e depois sumiam; os cílios, que curvavam-se e prendiam pequenas gotas, eram longos e infinitos; a testa franzida trazia para a pintura um ar grosso e rústico, algo que talvez nem Michelangelo conseguisse criar. A respiração que ia contra a dela, logo foi se acalmando e junto foi se desfazendo o peso no olhar, não demorou muito para que ela notasse que ele tinha adormecido. seus lábios estavam entreabertos e ela sentia que tudo o que ela desejava estava, de alguma forma, escondido nesse menino. Observando-o mais uma vez, e deixando que seu subconsciente tomasse conta, ela sussurrou o nome dele como se fosse o segredo mais lindo que ela um dia pode guardar.