quinta-feira, 29 de outubro de 2015

00:15 PM



nomes estranhos
nomes perfeitos
eles devoram
dizem
consomem
tudo aquilo com seu nome
eles vêm de noite
batem em sua porta
ou te atraem com um sorriso
em plena manhã fria
eles tiram
mudam
exterminam
tudo aquilo com seu nome
eles escolhem
seu sorriso
sua pele
tudo aquilo com seu nome
e o tiram
da boca de todos
de sua própria boca
te transformam
em outra
e em outra
e em muitas outras
sobem em seus ouvidos
consomem com seus gritos
e tua pessoa grita
nomes
nomes estranhos
nomes perfeitos
nomes que um dia
continham tudo
tudo o que era seu
mas agora você só tem nomes
sem sorrisos
sem peles
então você vai atrás 
de pessoas com nomes
e devora
e diz
e consome 
tudo aquilo que contém seus nomes

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

7:50 PM

  

          Ela senta-se do meu lado, mas não olha para mim. Fica encarando a janela, que está passando a silenciosa neve cair e amontoar-se no chão; e, mesmo sem saber por quê, decido acompanhar o programa. Talvez o silêncio dela existisse para que momentos assim pudessem descrevê-la. Pois sua pele era branca e seus cabelos amontoavam-se em seus ombros; sua voz era quieta mas suas palavras destruíam lares.
           E, naquele momento, meus olhos brilham por vê-la - eu sei, pois meu coração queima -, minhas bochechas estão vermelhas, pois elas também queimam. Porém toda essa fervura não queima a neve que esta na janela, então alívio percorre em minhas veias, porque não a estraguei. E mesmo sabendo dos flocos que percorrem seu sangue, seguro sua mão; a sinto aquecer, a sinto sorrir e seus olhos finalmente reagem a mim.
          Somos uma o farol da outra, pois constantemente velejamos para longe, para mundos distantes onde nossas ideias existem. Se não fosse por ti, eu já teria deixado de existir; o mundo das ideias sempre melhor me confortou. Luzes distantes e gritos incensáveis, eles nos salvam das ideias impossíveis e dos pensamentos perdidos que sempre parecem tão inocentes. E talvez seu sorriso malicioso tenha um pedaço meu, assim como minhas piadas têm um quê seu; pois, por mais que tentemos negar, nossas almas foram feitas para se completarem. Nesse momento você sorri para mim, porque obviamente sabe no que estou pensando, e seus dentes brancos reluzem no meio dessa escuridão fria e aconchegante.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

AUTORRETRATO



          Dois pequenos olhos, de tons terrosos, escondidos por trás de um muro de vidro com bordas de terras vermelhas. Um nariz que sustenta o muro e que não tem nada de particular, assim mesmo como os lábios - que não são nem volumosos quanto mais linhas ríspidas e fracas, mas insistem em ser escondidos por batons vermelhos e viscosos. Maçãs do rosto que servem para tornar dura a expressão gentil.
          Unhas cortadas desigualmente e sem cor, pulsos finos e dedos tortos - talvez de tanto serem estralados, talvez apenas uma deformidade - que continham apenas um anel para ti, uma simplicidade necessária. Quadris não tão largos que acompanham os bustos pequenos, e talvez tudo isso fizesse uma harmonia proposital com a altura não exagerada.
          Talvez por fora fosse óbvio tudo aquilo que se fala mesmo que todos os detalhes não sejam primeiramente notados, mas por dentro de toda a mentalidade psicótica, inserida por entre as entranhas da loucura ordinária e do raciocínio lógico, há uma pequena gota de cores que brilha e faz chuvas torrenciais serem mais belas que arco-íris pálidos que a acompanham.
          O caos se entrega, num sorriso com dentes à mostra ou nesse olhar questionador que libera tormento a ambas almas - minha e sua.

sábado, 3 de outubro de 2015

5:25 PM


seu rosto era apenas uma música
colada em minha mente
que me levava a dançar
evaporando toda dúvida
consumindo todo líquido
liberando toda energia

em seus braços apertados
insistia em não respirar
talvez sonhos inoportunos
não fossem tão ruins assim
e pensar que um dia
dizíamos que não íamos durar

toda alegria na saudade
toda melancolia num beijo
e um dia choramos
por toda aquela loucura que somos
e nessa contradição reconheci
que amor é tudo que tenho

sussurros distantes
ou berros próximos
a sua voz escorrendo
por meus ouvidos
seu corpo ecoando
em minhas veias

todas as cores visíveis
formando cinzas humanas
talvez na visão dos outros
não existíamos
mas nós sabíamos que
éramos tudo

nesse momento
em que meu corpo implora por ti
e a abstinência atinge seu ápice
eu noto que você
é justamente aquela droga
que minha mãe me mandou
não cheirar
não consumir
não amar