domingo, 20 de dezembro de 2015

4:29 PM




a morte aqui jaz
em meus lábios
incapacitada
nos meus braços
eu foragida
eu mal querida
e corvos que devoram
pedaços em pedaços

não há monstros
se alimentando de mim
não há esperança
se possuindo de mim
não há guia
que me diga onde ir
não há intuições
que me façam confiar

ela grita para mim
implora sem pedir
em correntes fracas
pele desgastada
águas a englobam
num azul puro
sem sangue a derramar
sem sangue a percorrer
sem sangue para viver
um espírito desfeito
fruto de mitologia

eles gritam para mim
quando passo
quando me desfaço
pretos e sem voo
carregados de peso
vivem em desespero
nesse castelo
meu castelo
almas partidas
sem pós vida
fruto de mitologia

tem carrosséis
tem arranha-céus
nesse castelo vazio
tem diferentes cores
mais que três amores
e não há dimensões
nesse lugar não-plano
e não há possibilidades
num mundo sem fim

fomos devorados
ela diz
na tentativa de perfeição
de bela geometria
em poliedros circulares
acabamos com milhares
nossa queda
sem dinastia
havia somente uma menina
comandando exércitos
gritando guerras
que deveriam ser vencidas
dentro de mentes
nossas mentes
todas dos que mentem

nenhuma guerra foi vencida
dezenas de consciências
foram perdidas
e vários túmulos foram criados
para dar um fim
nas mentes dos que sobraram
talvez essa força
seja a verdadeira natureza
e a perfeição
seja somente uma consequência
fruto de mitologia

a morte aqui jaz
no meu túmulo
no meu castelo
no meu rosto
nesse amarelo
que as flores carregam
que ponho no meu descansar
nesse lugar sem dimensões
sem possibilidades
coberto de sonhos
e gritos incensáveis
de mentes que batalham
contra si
por palavras
que disse e insisti

eu grito para eles
sou apenas uma garota
com muitos em minha mente
controles que são controlados
e gritos que nunca são gritados
caminho por entre os corvos
pretos e que não voam
aprisionados e desesperados
numa mente que é minha
todas essas mentes são minha
apenas fruto de mitologia

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

10:19 PM



       Descansar num lugar estranho nunca pareceu mais fácil. Mesmo que o sofá não seja grande o suficiente para nós dois, mesmo que nunca achemos uma posição confortável para ambos. Você adormeceu no meu peito e nossa respiração é tranquila como esse amanhecer colorido que eu vejo por cima de seus cachos. Talvez haja paraíso afinal.
        A TV soa baixinha longe de mim. E eu observo as constelações que preenchem sua pele, que tão facilmente se contrapõe a minha e a aquece. Minha mão continua fria, mesmo estando por debaixo de sua camisa, mas meu coração derrete liberando o que parece morfina pois me alegra e esvazia toda a dor que corria pelo meu corpo.
       Seus lábios, praticamente num biquinho, questionam todas as minhas ações; incluindo o programa de TV que passa em cores por meus olhos. Como que alguém pode quebrar um coração como o seu? Um coração tão simples e puro, um espelho com nada a esconder e com tal moldura que me encanta eternamente, com algumas manchas e falhas, mas que continua a reluzir uma áurea tão clara.
       Você me puxa quando finalmente acorda, me dá um beijo e vai tomar café. Ri de como o amargo dele combate meu doce e depois acaricia meus cabelos. Num paradoxo de olhares, que sempre parece melhor que qualquer conversa, confesso o que já sabia faz tempo: que mesmo indo embora, algo em mim sempre fica preso, Numa estante, num travesseiro, num beijo que não deveria ter sido desfeito.
Sou tua ate no espaço sideral isolado que é minha mente numa noite sozinha e cosmo nenhum consegue liberar essa euforia que fica dentro de mim quando seu nome dança em meus lábios ou quando sua boca acorda meu sistema nervoso, fazendo milhares de estrelas clamarem por suicídio. Você finalmente me solta para o mundo, mas minha mente continua presa naquele olhar que você me deu faz cinco minutos.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

10:30 AM














Terminar um mês com um coração partido, que aguentou toda uma sofrença só para falhar nos últimos segundos. Terminar um mês com um coração partido, com sal nos olhos e toques que não ocorreram, mas que são profundamente sentidos por minha pela de tempos em tempos. Com mais propostas que tempo, com mais ideias que páginas e com uma calma que foi apagada, novembro percorreu meus pulmões para deixá-los tão danificados que nem água consegue limpá-los. Redescobri aquele álbum só para ver nas entrelinhas palavras que caçoavam de mim por esconder tais sentimentos por semanas, os flashes não pararam desde então. Tantos rostos com cores inimagináveis e tanta dor escorrendo de minha pessoa, que sorria numa alegria contínua e calma. Terminar um mês com um coração partido só para notar que o controle é uma ilusão descontrolada, fugindo de mim como a chuva que se recusa a me molhar, que só aceita me acordar de sonhos perfeitos e pesadelos apaixonantes. As cores que percorrem minha mente jamais saem e me pego às vezes com seu nome em meus lábios, só para soltar o dela em seguida, como se se pertencessem; mas essa é somente outra ilusão da vida, assim como essas palavras, assim como essa música que zomba de mim. Talvez tudo que eu sinta seja ilusão, seus abraços, seu nome, essa mão estranha que pousa em meu ombro. Terminar um mês com um coração partido, com a lembrança de que daqui a 40 dias eu terei uma vida nova, que apenas será outra ilusão, pois ainda vou te esperar num canto escondido com tais sentimentos na palma de minha mão.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

5:32 PM


Não concordei com isso, não aceitei esse destino. E dois corações batem descompassados, um deles é assassino, um deles foi treinado para isso, ambos se sentem perdidos. Teu uniforme é vermelho tal como meu cabelo, mas eles não se encostam, não como antes. Meu negro corpete não parece mais com a noite, manchado de decisões incompreensíveis para ti, manchado de vidas que perdi. Num ballet sombrio nos movemos, dois corpos graciosos que não se esbarram, se dividem na negritude e se esquivam eternamente.
Antigamente éramos um sonho distinto, um flerte contínuo de mentes quebradas, a vida não foi gentil com nenhum de nós, nossos toques queimam o vento que nos segura no chão, duas pessoas que tiveram que mudar-se para tentar pertencer a um mundo não nosso. Nos observam, se divertem, pois sofremos mais que aqueles que estão a sangrar no campo de batalha. Sorriem e comentam sobre o casal que se devastou por culpa de opiniões alheias. E te observo, enquanto foge de mim fugindo de ti, só para notar que somos dois corações feitos somente para quebrar.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

5:41 PM


                   Te vi num pensamento perdido numa rua qualquer, sem motivo aparente mas o suficiente para tua pessoa me sufocar inconscientemente. E mesmo quando já havia partido, eu ainda tentava redobrar o fôlego que seu rosto me tirou, mesmo nele não havendo nada de especial. Nunca houve, nunca esperei que houvesse e talvez nunca haverá, mas isso não me incomoda e parece não te incomodar, pois você continua aparecendo em cada esquina, em cada sombra, em cada esperança e não sei o que espero que você faça depois disso. Não há celebrações a serem feitas, ou até mesmo abraços a serem dados; há somente duas pessoas que convivem em momentos diferentes, diferentes ideias, diferentes ideais. Dois ladrilhos diferentes que as vezes se esbarram e fazem mosaicos no chão de pedra.
                 Lembro do travesseiro de água, que ficava tão bem com meus cachos e do cigarro que sempre encaixou facilmente entre seus dedos. Botas que não foram feitas para correr e bancos que não foram feitos para serem andados sobre. Não havia chuva e certamente não havia esse calor que meu corpo não consegue se livrar. O único calor que existia era o irradiado pelo seu corpo que passava para o meu num aconchego, e suas mãos eram tão frias quanto a brisa que me fazia dançar em giros. Um beijo que ambos estávamos bêbados demais para lembrar com detalhes, você de álcool e eu de paixonite, mas soubemos em um encontro de olhares que ele aconteceu. Não me lembro do amanhecer, mas para mim não havia nem a noite. Havia estrelas rodopiando, rosa cobrindo o céu, vermelho nas bordas dos seus lábios e resto de licor queimando os meus, visão que até Van Gogh teria inveja. Não havia silêncio constrangedor ou berros de estranhos, somente sussurros percorriam minha mente, vozes que pareciam suas, mas eu só te via sorrir sem motivos.
                    Não lembro de ter ido dormir, não lembro de ter bebido, mas acordei numa cama e havia ressaca. Não minha, mas tua. Tua cama, tua ressaca, tuas reviravoltas. E sem "bom dia" fui embora e sem "adeus" te vi fugir. Não haviam erros a serem consertados, éramos duas manchas que não podiam ser apagadas: da história, do universo, da mente um do outro. Não importa qual obra de arte tínhamos criado, havia a necessidade em seus olhos de fazê-la sumir. E mesmo com todos os dias que se seguiram e aos diversos encontros que fomos submetidos, sua pessoa não via a minha, mesmo quando você era a única que a minha visse. E, nossa, como ela via: em cada momento de desespero ou euforia, em cada roçar de pernas e em toda vez que eu me animo contanto fatos.
                  E você comentou uma vez, para Deus sabe quem, que meu perfume não saia de seu quarto, que meu batom quase não saiu de seus lençóis e que aquela música ainda o fazia lembrar de mim. Então talvez estejamos fadados a viver com a sombra do outro, você sabe como o universo ama uma piadinha cósmica e como os cósmicos são os únicos que não mentem. E nesse jeito estranho de amar o que não nos pertence, seguimos nos encontrando e criando obras de arte com olhares que tentam não se ver.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

10:27 AM


dividi uma lágrima com o desconhecido
e ela caiu num rio de desespero
tão negro quanto a alma dos que não sorriem
tão comprido quanto os dedos de meu amado
e num abraço apertado ele me engoliu 
água brincando para sempre em meus pulmões 
as cores dos meus gritos não iluminam 
o caminho no qual caio eternamente 
tão lento que o vejo num sonho
um sonho limpo e incrivelmente vívido
meu amado me acompanha para sempre
é a água que não me deixa respirar
e o rio de desespero some em minha garganta
ele corre em minhas veias, as aquece
meu sangue pesa manchando meu rosto
não há paz nessas terras vermelhas
que dançam sobre meus pés
que mancham o pequeno branco
que não denunciam que eu sangro
e o vermelho se liberta pelos meus olhos
desce, escorre, desvive
essa última lágrima divido com o desconhecido

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

00:15 PM



nomes estranhos
nomes perfeitos
eles devoram
dizem
consomem
tudo aquilo com seu nome
eles vêm de noite
batem em sua porta
ou te atraem com um sorriso
em plena manhã fria
eles tiram
mudam
exterminam
tudo aquilo com seu nome
eles escolhem
seu sorriso
sua pele
tudo aquilo com seu nome
e o tiram
da boca de todos
de sua própria boca
te transformam
em outra
e em outra
e em muitas outras
sobem em seus ouvidos
consomem com seus gritos
e tua pessoa grita
nomes
nomes estranhos
nomes perfeitos
nomes que um dia
continham tudo
tudo o que era seu
mas agora você só tem nomes
sem sorrisos
sem peles
então você vai atrás 
de pessoas com nomes
e devora
e diz
e consome 
tudo aquilo que contém seus nomes

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

7:50 PM

  

          Ela senta-se do meu lado, mas não olha para mim. Fica encarando a janela, que está passando a silenciosa neve cair e amontoar-se no chão; e, mesmo sem saber por quê, decido acompanhar o programa. Talvez o silêncio dela existisse para que momentos assim pudessem descrevê-la. Pois sua pele era branca e seus cabelos amontoavam-se em seus ombros; sua voz era quieta mas suas palavras destruíam lares.
           E, naquele momento, meus olhos brilham por vê-la - eu sei, pois meu coração queima -, minhas bochechas estão vermelhas, pois elas também queimam. Porém toda essa fervura não queima a neve que esta na janela, então alívio percorre em minhas veias, porque não a estraguei. E mesmo sabendo dos flocos que percorrem seu sangue, seguro sua mão; a sinto aquecer, a sinto sorrir e seus olhos finalmente reagem a mim.
          Somos uma o farol da outra, pois constantemente velejamos para longe, para mundos distantes onde nossas ideias existem. Se não fosse por ti, eu já teria deixado de existir; o mundo das ideias sempre melhor me confortou. Luzes distantes e gritos incensáveis, eles nos salvam das ideias impossíveis e dos pensamentos perdidos que sempre parecem tão inocentes. E talvez seu sorriso malicioso tenha um pedaço meu, assim como minhas piadas têm um quê seu; pois, por mais que tentemos negar, nossas almas foram feitas para se completarem. Nesse momento você sorri para mim, porque obviamente sabe no que estou pensando, e seus dentes brancos reluzem no meio dessa escuridão fria e aconchegante.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

AUTORRETRATO



          Dois pequenos olhos, de tons terrosos, escondidos por trás de um muro de vidro com bordas de terras vermelhas. Um nariz que sustenta o muro e que não tem nada de particular, assim mesmo como os lábios - que não são nem volumosos quanto mais linhas ríspidas e fracas, mas insistem em ser escondidos por batons vermelhos e viscosos. Maçãs do rosto que servem para tornar dura a expressão gentil.
          Unhas cortadas desigualmente e sem cor, pulsos finos e dedos tortos - talvez de tanto serem estralados, talvez apenas uma deformidade - que continham apenas um anel para ti, uma simplicidade necessária. Quadris não tão largos que acompanham os bustos pequenos, e talvez tudo isso fizesse uma harmonia proposital com a altura não exagerada.
          Talvez por fora fosse óbvio tudo aquilo que se fala mesmo que todos os detalhes não sejam primeiramente notados, mas por dentro de toda a mentalidade psicótica, inserida por entre as entranhas da loucura ordinária e do raciocínio lógico, há uma pequena gota de cores que brilha e faz chuvas torrenciais serem mais belas que arco-íris pálidos que a acompanham.
          O caos se entrega, num sorriso com dentes à mostra ou nesse olhar questionador que libera tormento a ambas almas - minha e sua.

sábado, 3 de outubro de 2015

5:25 PM


seu rosto era apenas uma música
colada em minha mente
que me levava a dançar
evaporando toda dúvida
consumindo todo líquido
liberando toda energia

em seus braços apertados
insistia em não respirar
talvez sonhos inoportunos
não fossem tão ruins assim
e pensar que um dia
dizíamos que não íamos durar

toda alegria na saudade
toda melancolia num beijo
e um dia choramos
por toda aquela loucura que somos
e nessa contradição reconheci
que amor é tudo que tenho

sussurros distantes
ou berros próximos
a sua voz escorrendo
por meus ouvidos
seu corpo ecoando
em minhas veias

todas as cores visíveis
formando cinzas humanas
talvez na visão dos outros
não existíamos
mas nós sabíamos que
éramos tudo

nesse momento
em que meu corpo implora por ti
e a abstinência atinge seu ápice
eu noto que você
é justamente aquela droga
que minha mãe me mandou
não cheirar
não consumir
não amar

terça-feira, 22 de setembro de 2015

7:39 PM


Criamos um lar só nosso, que continha apenas dois cômodos: um vermelho e um confusamente imenso. No vermelho cultivamos flores: as que eu gostava, as que você gostava - mas insistia em não aprender os nomes-, e aquelas que nenhum de nós sabia como foi para lá, mas amávamos-las igualmente. Quando ficava muito pequeno, pulávamos para o cômodo superior, onde havia espaço até demais então aproveitávamos para colar fotos em cada local; fotos que eu repassava, loucamente, quando você não estava por perto, sempre houve uma sensação de conforto quando elas estavam a minha volta.
Porém flores vieram e foram, até que cultivá-las não fosse mais possível, talvez a culpa fosse minha de ter cansado de mantê-las ou fosse sua por ter insistido sempre nas mesmas. Ou talvez tenha sido a imensidão sempre com as mesmas fotos, até que estas ficassem desgastadas e sem cor, e observá-las cessasse de ser meu hobby. 
Você não concordou, disse que não entendia o por que desse meu desânimo repentino e dessa impaciência no meu rosto. Talvez sua cegueira estivesse plena e não houvesse como você notar como as flores morriam trazendo um cheiro mórbido por tudo aquilo que era meu viver. Não se vive na morbidez, não há como reviver o que já havia sido enterrado. Mas você olhou para mim e em sua voz trêmula comentou como você não continha lar a não ser meu coração e como viveria sem razão se não tivesse minha mão contra a sua e sua respiração acompanhando a minha. 
Desde então reformei minha casa, as paredes continuam vermelhas e aqui e ali cai de aparecer uma flor desconhecida, mas agora crio pássaros e posso lhe dizer que eles são imensamente lindos. O cômodo de cima continua cercado de fotos, não nossas mas de outros - mas confesso que coloco alguma selfie de vez em quando. Ainda não me acostumei em ter tudo para mim, por isso de vez em quando convido alguém, mas eles não ficam pois essa não é casa deles, é minha e era nossa.

domingo, 13 de setembro de 2015

15:34 PM

Chovia de noite. Apenas uma pequena garoa, mas foi o suficiente para ela conseguir pegar ar novamente - toda àquela loucura não era para ela. Deitada num muro coberto de folhas, ela observava o céu escuro com manchas cinzas, que mais pareciam fumaças de charutos do que nuvens, e tudo aquilo era bom demais para ser verdade. Claro, o coração dela estava a mil em seu peito, mas sua mente parecia estar em outro lugar. Sentia-se conectada com as folhas em que encostava e a garoa limpava todas as suas preocupações.
Ela passou a mão pela blusa que não era sua, estava totalmente molhada, e a garota não podia dizer se era de suor ou chuva; e ela gostou disso. Ela gostou da sensação de estar perdida no mundo mas não em si, ela sabia o que fazia e porquê fazia. Sua mente percorreu milhares de devaneios até um gato passar por seu lado, era branco com tons de laranja, olhou-a de cabo a rabo e subiu em seu corpo, onde aninhou-se e deitou. Sentia-se em êxtase, mesmo não querendo se mover ou fugir dali. Acariciou o gato, que ronronou em retorno. E com os olhos quase cedendo à vida, ela virou para observar aquele menino que a levou para lá, que era a razão de tudo, provavelmente. Ele observava o céu também, mas não tranquilamente e sim com indignação. Ela só via o perfil dele, as sardas que cresciam e depois sumiam; os cílios, que curvavam-se e prendiam pequenas gotas, eram longos e infinitos; a testa franzida trazia para a pintura um ar grosso e rústico, algo que talvez nem Michelangelo conseguisse criar. A respiração que ia contra a dela, logo foi se acalmando e junto foi se desfazendo o peso no olhar, não demorou muito para que ela notasse que ele tinha adormecido. seus lábios estavam entreabertos e ela sentia que tudo o que ela desejava estava, de alguma forma, escondido nesse menino. Observando-o mais uma vez, e deixando que seu subconsciente tomasse conta, ela sussurrou o nome dele como se fosse o segredo mais lindo que ela um dia pode guardar.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

9:20 PM


Tudo vai sumindo.
Até que só reste nós dois,
num ambiente tão aberto
que não há como isolá-lo.
E você note que existe nós,
mesmo quando tudo grite para que não haja.
E no meu olhar há mais que histórias,
no seu só há aquela profunda derrota.

Podemos só ignorar?
Todo aquele espaço
que não deveria existir no vácuo.
Oh Deus, perdoe-me de toda essa dor que me causo,
toda a teimosia que vive em meu peito,
mas por favor,
faça-o olhar para mim só uma vez.
Que ele seja a última coisa que minha memória se lembre,
e, oh, se em seus braços eu desse meu último suspiro.

Já não sei mais sobre o que escrevo.
Melhor ir para longe,
para onde minha mente não lembre mais de ti -
se ninguém se lembra, será que realmente aconteceu?
Em devaneios paridos, me parto:
para outras mentes
e pessoas mais contentes.
Nessa já não há mais salvação.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

9:08 AM


  Seus gritos eram sucumbidos pelo diabo que a açoitava.
  Sua pele rasgava-se por dentro e por fora, e mesmo não estando completamente nua, era assim que se sentia. O cérebro pulsava na busca de uma fuga, mas tudo que seus olhos viam era o mundo coberto de sangue. Parte dela desejou que a morte fosse apenas um breu infinito, para que ela não tivesse que estar aqui agora. Cada parte de si queimava: seu rosto, suas pernas, até as pontinhas dos dedos. Cada célula berrava sem saber o que fazer. Sua identidade parecia estar escorrendo para fora e ela fazia questão de queimar cada canto exterior de si no processo.
  Até que sumiu.
  O diabo largou-a.
   Levantou, vestiu sua roupa íntima e abotoou a calça. Não disse nenhum adeus, mas também não havia dito nenhuma saudação, Só largou-a lá, sozinha num poço de desespero.
   Ela não sentiu nada, seu corpo inteiro desligou-se como se fosse reiniciar e algo havia dado errado. O mundo sangrento logo se desfez e em seu lugar ficou um céu negro sem estrelas. um mundo de ausência.
   E ficou. Até o orvalho molhar e limpar seu corpo. Até alguém passar e lhe dirigir a palavra. Até levantarem-na e a levarem dali. Até sentar numa cadeira fria e não responder nenhuma pergunta. Até abraçarem-na e fazerem promessas. Só ficou lá, esperando ser reiniciada. esperando que alguém notasse que ela não estava mais lá. Que ela havia deixado de existir. Que nela só havia ausência. 

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

11:38 PM


  Meu primeiro coração partido ocorreu várias vezes, cada uma em uma intensidades, até torna-se impossível de suportar. Foi na mesma medida que o amor, crescendo de forma incontrolável até que meu hobby tornou-se amar as pessoas em minha volta; bem, pelo menos era assim até eu ter meu coração realmente partido.
  A dor veio, não exatamente onde estava o coração, mas no centro do peito. Era como se algo estivesse lá, interferindo, me impedindo de respirar, impendido o sangue de passar. talvez o ar tenha se tornado muito denso e meu sangue grosso e pastoso, a ponto de meu corpo não conseguir mandá-lo para frente; duvidava até que a cor de meu sangue fosse vermelha, no meu peito ela soava mais como negra ou acinzentada - um bloco de cimento. 
  Logo o ar parou de passar e eu senti que iria ter um ataque de pânico. Que loucura a minha! Um ataque de pânico por um coração partido? na verdade que coração? duvidava até mesmo que ele estivesse lá, talvez nem bombeasse mais sangue - não o sentia bater contra meu peito. Talvez fosse isso que pesasse e não minha consciência. Afinal, eu não me arrependia de amá-lo ou de tê-lo escutado; eu sentia mesmo era raiva, uma raiva tão grossa e densa que subia de meu peito, formigava meu nariz e escorria pelos meus olhos. Toda vez que olhava ao redor estava chorando, ou uma tentativa falha de não chorar. Não queria chorar porque não sentia tristeza, sentia-me traída, sentia-me usada, sentia-me um poço de emoções que não constava felicidade ou decepção. 
  Não sei o que esperar agora, como que se vive depois de um fora com uma declaração de amor? Porque você não acabou com nós porque não me amava, mas porque não tinha forças para me amar. Não sou a culpada dessa história e nem é a aquela com quem você anda. Talvez seja apenas aquela falha da sua personalidade, que o faz desistir do amor e de ser amado. Mas sinto em lhe dizer que aqui não é nenhum livro para eu correr para seus braços, se você não vier para mim não irei para ti. Simples assim. Nem todo o amor do mundo pode consertar a falha do seu sistema. Assim como nem todo o amor do mundo pode consertar a falha que você inseriu no meu. 

terça-feira, 1 de setembro de 2015

11:50 PM



É engraçado dizermos ‘tchau’ para algo que nunca foi nosso e desejarmos que ele volte.
É engraçado como nosso ego é tão grande a ponto de pensarmos que algo nesse universo - grande, cheio de milagres e formas infinitamente coloridas, cada qual com sonhos que se transformam em planos incompletos e peculiares - possa pertencer à nós, pessoas egoístas que se recusam a pertencer a algo simples como uma muda de roupa.
É engraçado quando soltamos nossas mãos, aquela certeza que aquilo que fora solto seja tão necessitado que tenha de prender sua mão novamente à nossa, como uma criança desesperada pelo toque reconfortante de sua mãe.
É engraçado que nós, ambos espíritos livres procurando por algo que nos acompanhe, tenhamos acreditado por um segundo sequer que um não conseguiria viver sem o outro, ou melhor, que um seria tão facilmente atrasado só para satisfazer o ego alheio. Assim como estrelas, nós não dependemos de ninguém além de nós mesmos para queimarmos até a morte e nada vai nos atrasar em nossa destruição interna.