quarta-feira, 18 de novembro de 2015

5:32 PM


Não concordei com isso, não aceitei esse destino. E dois corações batem descompassados, um deles é assassino, um deles foi treinado para isso, ambos se sentem perdidos. Teu uniforme é vermelho tal como meu cabelo, mas eles não se encostam, não como antes. Meu negro corpete não parece mais com a noite, manchado de decisões incompreensíveis para ti, manchado de vidas que perdi. Num ballet sombrio nos movemos, dois corpos graciosos que não se esbarram, se dividem na negritude e se esquivam eternamente.
Antigamente éramos um sonho distinto, um flerte contínuo de mentes quebradas, a vida não foi gentil com nenhum de nós, nossos toques queimam o vento que nos segura no chão, duas pessoas que tiveram que mudar-se para tentar pertencer a um mundo não nosso. Nos observam, se divertem, pois sofremos mais que aqueles que estão a sangrar no campo de batalha. Sorriem e comentam sobre o casal que se devastou por culpa de opiniões alheias. E te observo, enquanto foge de mim fugindo de ti, só para notar que somos dois corações feitos somente para quebrar.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

5:41 PM


                   Te vi num pensamento perdido numa rua qualquer, sem motivo aparente mas o suficiente para tua pessoa me sufocar inconscientemente. E mesmo quando já havia partido, eu ainda tentava redobrar o fôlego que seu rosto me tirou, mesmo nele não havendo nada de especial. Nunca houve, nunca esperei que houvesse e talvez nunca haverá, mas isso não me incomoda e parece não te incomodar, pois você continua aparecendo em cada esquina, em cada sombra, em cada esperança e não sei o que espero que você faça depois disso. Não há celebrações a serem feitas, ou até mesmo abraços a serem dados; há somente duas pessoas que convivem em momentos diferentes, diferentes ideias, diferentes ideais. Dois ladrilhos diferentes que as vezes se esbarram e fazem mosaicos no chão de pedra.
                 Lembro do travesseiro de água, que ficava tão bem com meus cachos e do cigarro que sempre encaixou facilmente entre seus dedos. Botas que não foram feitas para correr e bancos que não foram feitos para serem andados sobre. Não havia chuva e certamente não havia esse calor que meu corpo não consegue se livrar. O único calor que existia era o irradiado pelo seu corpo que passava para o meu num aconchego, e suas mãos eram tão frias quanto a brisa que me fazia dançar em giros. Um beijo que ambos estávamos bêbados demais para lembrar com detalhes, você de álcool e eu de paixonite, mas soubemos em um encontro de olhares que ele aconteceu. Não me lembro do amanhecer, mas para mim não havia nem a noite. Havia estrelas rodopiando, rosa cobrindo o céu, vermelho nas bordas dos seus lábios e resto de licor queimando os meus, visão que até Van Gogh teria inveja. Não havia silêncio constrangedor ou berros de estranhos, somente sussurros percorriam minha mente, vozes que pareciam suas, mas eu só te via sorrir sem motivos.
                    Não lembro de ter ido dormir, não lembro de ter bebido, mas acordei numa cama e havia ressaca. Não minha, mas tua. Tua cama, tua ressaca, tuas reviravoltas. E sem "bom dia" fui embora e sem "adeus" te vi fugir. Não haviam erros a serem consertados, éramos duas manchas que não podiam ser apagadas: da história, do universo, da mente um do outro. Não importa qual obra de arte tínhamos criado, havia a necessidade em seus olhos de fazê-la sumir. E mesmo com todos os dias que se seguiram e aos diversos encontros que fomos submetidos, sua pessoa não via a minha, mesmo quando você era a única que a minha visse. E, nossa, como ela via: em cada momento de desespero ou euforia, em cada roçar de pernas e em toda vez que eu me animo contanto fatos.
                  E você comentou uma vez, para Deus sabe quem, que meu perfume não saia de seu quarto, que meu batom quase não saiu de seus lençóis e que aquela música ainda o fazia lembrar de mim. Então talvez estejamos fadados a viver com a sombra do outro, você sabe como o universo ama uma piadinha cósmica e como os cósmicos são os únicos que não mentem. E nesse jeito estranho de amar o que não nos pertence, seguimos nos encontrando e criando obras de arte com olhares que tentam não se ver.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

10:27 AM


dividi uma lágrima com o desconhecido
e ela caiu num rio de desespero
tão negro quanto a alma dos que não sorriem
tão comprido quanto os dedos de meu amado
e num abraço apertado ele me engoliu 
água brincando para sempre em meus pulmões 
as cores dos meus gritos não iluminam 
o caminho no qual caio eternamente 
tão lento que o vejo num sonho
um sonho limpo e incrivelmente vívido
meu amado me acompanha para sempre
é a água que não me deixa respirar
e o rio de desespero some em minha garganta
ele corre em minhas veias, as aquece
meu sangue pesa manchando meu rosto
não há paz nessas terras vermelhas
que dançam sobre meus pés
que mancham o pequeno branco
que não denunciam que eu sangro
e o vermelho se liberta pelos meus olhos
desce, escorre, desvive
essa última lágrima divido com o desconhecido