quinta-feira, 8 de outubro de 2015

AUTORRETRATO



          Dois pequenos olhos, de tons terrosos, escondidos por trás de um muro de vidro com bordas de terras vermelhas. Um nariz que sustenta o muro e que não tem nada de particular, assim mesmo como os lábios - que não são nem volumosos quanto mais linhas ríspidas e fracas, mas insistem em ser escondidos por batons vermelhos e viscosos. Maçãs do rosto que servem para tornar dura a expressão gentil.
          Unhas cortadas desigualmente e sem cor, pulsos finos e dedos tortos - talvez de tanto serem estralados, talvez apenas uma deformidade - que continham apenas um anel para ti, uma simplicidade necessária. Quadris não tão largos que acompanham os bustos pequenos, e talvez tudo isso fizesse uma harmonia proposital com a altura não exagerada.
          Talvez por fora fosse óbvio tudo aquilo que se fala mesmo que todos os detalhes não sejam primeiramente notados, mas por dentro de toda a mentalidade psicótica, inserida por entre as entranhas da loucura ordinária e do raciocínio lógico, há uma pequena gota de cores que brilha e faz chuvas torrenciais serem mais belas que arco-íris pálidos que a acompanham.
          O caos se entrega, num sorriso com dentes à mostra ou nesse olhar questionador que libera tormento a ambas almas - minha e sua.